domingo, junho 10, 2007

Facto


Os malucos da praia do Guincho


Não eram portugueses. Talvez por isso, pela excessiva descontração, pelo facto de se estarem simplesmente a cagar para quem os observava, ri-me como um perdido. A entrada na praia foi triunfal e, despertou de imediato a minha total atenção. Um deles, ignorando a entrada comum e normalmente utilizada pelos banhistas, descia a encosta da Crismina, deslizava pelas dunas ao som de um tilintar que me soava familiar. Não havia a mínima dúvida, era um saquinho cheio de Super Bock's. Os outros seguiram-no, rindo e já cambaleando. Via-se que já tinham feito o "aquecimento" ao almoço. Estava um dia de sol e, depois de uma árdua semana de trabalho na construção (algo me diz que laboravam neste sector), era natural que o aproveitassem ao máximo. Não traziam apenas cervejas. O Kit estava mais composto. Uma prancha de Bodyboard preenchida pelas figuras do filme "Finding Nemo", uma bola de futebol, à falta de toalhas...um mega cobertor e, para ensopar, umas "buchinhas." Pela língua, deduzi que fossem dos Balcãs. Riram, brincaram, jogaram, emborcaram (muito mesmo), nadaram e fizeram "body." O calor interno era tal que ignoravam as gélidas temperaturas do mar do Guincho. Como se previa, face aos excessos do consumo e por ignorarem que ali as correntes são fortes e traiçoeiras, já um deles seguia à deriva, naturalmente, sem força e folego para regressar. Vai lá que a época balnear já começou (oficialmente), e o "Mitch" de serviço lá se atirou ao mar em busca do náufrago. Mas nem por isso os ânimos esmoreceram. Nada disso. Próxima etapa: escavação de uma vala profunda. Quando dei por mim, já um deles estava enterrado até ao pescoço. Ele ria e os amigos assistiam-no, levando-lhe à boca a fresquinha "Super." Depois foi o momento do "Olá fresquinho", vivido intensamente pelo vendedor, pois calculo que nunca teve tanta mão junta a proceder à escolha no interior da sua sacola térmica. E assim, de um momento para o outro, levantam armas e seguem para outras paragens. Nem todos. O amigo permanece enterrado e grita para que os companheiros o ajudem a sair. Mas estes já se encontram no topo da encosta a rir como uns perdidos. Ele esforça-se, mas nada. Calculo que estivesse enterrado de pé. Consegue sacar um bracinho e abana-o para aliviar as cãimbras. Saca o outro. Abana-se, contorce-se e, passados dez minutos, lá consegue a liberdade. Menos mal, pensou ele, seguiu rindo ao encontro dos companheiros. Há dias assim.