
Perdoem-me os assíduos leitores deste espaço, pois, para escrever este post, impos-se uma ligeira descida do nível da linguagem a que vos habituei. Coisa pouca caríssimos. Tomemo-la apenas como vulgar calão. Ora bem! Todos temos histórias de merda para contar. E quando falo em histórias de merda não me refiro a um ou outro dia da nossa vida com episódios menos agradáveis. Nada disso! Refiro-me à merda, e aos seus sucedâneos, na sua mais pura essência. Por mais educados que sejamos, sempre nos acompanharam, desde a tenra idade, episódios e histórias que concernem a esta dúbia substância, que nos causa tanto prazer quando a expelimos, e tanta repugnância quando, por uma ou outra razão, com ela somos confrontados. Porcaria à parte, sempre nos rimos com este tema. Senão veja-se. Quando era puto, ria-me como um perdido com os "flambés" que o meu irmão mandava. Até então, vivia intrigado com o mistério que envolvia uma ou outra cueca queimada que aparecia na minha gaveta. Mas no que respeita à arte do "flambé", conheço um verdadeiro artista que, já na idade adulta, tinha o inesperado dom de, a meio de um jogo de cartas, baixar as calças e atear um fogo dos diabos, tal era a intensidade do gás expelido. Brincadeira de rapazes. Claro que, brincadeiras como esta, aconteciam e acontecem com as meninas a kms de distância. É que nem lhes passa pela cabeça as asneiras que um grupo de rapazes é capaz de praticar. E espaços fechados? Quem nunca sentiu uma louca vontade de correr para o WC mais próximo, dois minutos depois de entrar num espaço apertado? Neste campo as livrarias são campeãs. As antigas, claro. Enquanto percorria os aperdadinhos corredores das livrarias, foram poucas as vezes em que não senti aquele arrepio, ou chamamento, como lhe quiserem chamar, para agarrar num livrinho e deleitar-me com uma leitura de merda (também conhecida como leitura de casa de banho). Claro que, nas modernas livrarias de hoje, como a Fnac ou a Byblos, o espaço é mais largo, permitindo a livre circulação da flatulência. Mas há mais. Sempre admirei os artistas de merda. Sim, aqueles que durante o acto de obrar, nos presenteiam com verdadeiros escritos, ou mesmo pinturas, nas portas das casas de banho públicas. Frases como "lá fora és um herói mas aqui borras-te todo" tornaram-se um verdadeiro clássico. E nas mais distantes casas de banho, como em Zabreb, Croácia, lá estava o dedinho português com um imponente "Viva Portugal." Ainda longe da capital, recordo com saudade uma cena em que um amigo meu se "peigou" à entrada de uma festa onde não conheciamos quase ninguém. A única alternativa para safar a situação, era um solitário lenço que foi oferecido a muito custo pelo nosso constipado amigo Pato. Deste meu amigo, também é famosa uma história de merda, em que, numa situação de emergência, verificando-se a falta de uma suave folha de papel higiénico, teve que se desenrascar com uma das antigas moedas de 50 Escudos. Uma das minhas histórias de merda aconteceu num café em Roma. Há falta de alternativa, tive que me acomodar com uma latrina rasa, coisa que imaginava apenas existir nos campos de concentração. E que mau jeito, meus caros leitores. Mas a rainha de todas as histórias de merda foi-me contada por um amigo que trabalha numa conhecida instituição bancária. Contou-me este amigo que o seu chefe se trancou durante mais de uma hora na casa de banho da dependência. Terminada a obra, saiu, orgulhoso, e trancou a porta do WC para que ninguém ousasse, sequer, desdenhar do que lá acontecera. Cinco minutos depois, ouvem-se gritos de horror, soltados por uma das colegas. Vindo por baixo da porta da casa de banho, um rio transportava o produto de hora e meia de esforço e deleite. E como corou. Imaginam o filme? Pura comédia. Enfim, histórias de merda!