Querida, gosto mais do meu VW do que de ti.

Sentados numa esplanada em Belém a degustar uma belíssima Carvalho Ribeiro Ferreira assistimos a um filme triste. Senão veja-se: O cromo estaciona o seu Golf topo de Gama. Ao seu lado segue uma gata. Gira, bem feita, com o seu óculo de secretária. O cromo sai furiosamente do carro. Como estamos em Bogotá e Belém é o ponto mais perigoso da cidade, o cromo tranca o carro. Percebe-se que alguma coisa não está bem. O cromo está chateado, o cromo destranca a porta, ralha com a sua gata. Ela, coitadita, encolhe os ombros como uma gazela assustada. O cromo volta a trancar a porta e de imediato percebemos o que se está a passar. O cromo raspou a jante especial do VW e, de imediato, a vida do cromo desmoronou-se. O cromo está desesperado. Esfrega furiosamente a jante do VW. Sim, porque os clinex's são do melhor para endireitar a chapa e as jantes. No outro dia bateram-me por trás. Tranquilo, passei um clinex e em 5 min o meu bólide ficou como novo. Mas o nosso cromo foi mais persistente. Teve 10 minutos a esfregar e a bufar de raiva. Eu estava preocupado. Não com ele mas com a sua gata. Pensei: mas porquê? Só me apetecia arrancá-la do VW e dizer: sai dessa lama!! Mas depois lembrei-me das gatas de Portugal que colocam de lado os sentimentos bonitos de uma relação e que abraçam a segurança, a carteira e o crédito automóvel que o cromo fez para comprar o VW. Fico triste. Vejo cromos com gatas giras, que à primeira vista parecem inteligentes, sentados em mesas de cafés sem trocarem uma única palavra. Já não há nada de expontâneo. O que há numa relação compra-se no el corte inglés, numas lojitas da Av. da Liberdade, nos Cafés di Roma, num qualquer stand automóvel e, claro, na Cofidis - o crédito por telefone. Isso tudo é que é fixe...é bem. Enfim...
Hoje o cromo do VW chega a casa e é bem capaz de dizer à sua gata: querida, gosto mais do meu VW do que de ti. E agora deixa-me em paz porque aquele tubo de escape está a excitar-me.