quinta-feira, outubro 12, 2006

Amor à distância de um clique

“Numa ilha com cerca de 400 pessoas e com pouca «oferta», a Internet assumiu uma função casamenteira e já serviu para dois irmãos encontrarem as suas esposas no Brasil, a milhares de quilómetros do isolado Corvo. Depois de navegar na Internet há cerca de quatro anos, Ludgero Lindo, 28 anos, encontrou num site de conversação o perfil de uma brasileira que lhe chamou a atenção e que o fez perder a vergonha e decidir arriscar, enviando-lhe uma mensagem. Dois dias depois, a resposta chegou, indicando que o interesse era mútuo e, passados seis meses de conversas diárias, a brasileira «virtual» aterrou no Corvo, com uma amiga, para um conhecimento directo, contou Ludgero Lindo à agência Lusa. «Ficou cá três meses e adaptou-se muito bem ao nosso ritmo de vida, mas depois voltou ao Rio Grande do Sul para resolver problemas», explicou o jovem, que tenciona casar com a Daiane, em Abril, e morar na casa que está a recuperar no centro de Vila Nova do Corvo. Considerando que navegar na Internet é uma «aventura quotidiana», Ludgero Lindo, que recusa a palavra isolamento para definir a sua ilha, adiantou que as raparigas do Corvo «são muito fechadas». Numa terra com reduzida população, muitos corvinos acabam por casar entre si, apesar dos aspectos de consanguinidade e grau de parentesco inerentes a uma ilha com cerca de quatro centenas de pessoas.
Marco Lindo, irmão do Ludgero, também decidiu quebrar a tradição na ilha e apaixonou-se pela amiga da futura cunhada, que já não deixou voltar a Portalegre, no Brasil. «Foi amor à primeira vista» assegurou o jovem lavrador de 29 anos, para quem «as corvinas só olham para os homens ricos da terra» e, como tal, teve de encontrar uma mulher fora da ilha. A brasileira Carla Soares, 26 anos, sorriu ao ouvir as palavras de Marco e assegurou à Lusa que «bastou uma semana» para escolher o marido e o Corvo para viver, uma ilha que acha linda e onde nunca se sentiu isolada. Segundo referiu, inicialmente a família estranhou a decisão de casar e viver no Corvo, mas acabou por apoiar, ao constatar que o amor pode estar à distância de um clique.
Alguns habitantes da ilha olham, porém, com desconfiança para esta novidade, considerando mesmo que as mulheres brasileiras querem, apenas, obter a legalização em Portugal. Escusando-se dar o nome, algumas das pessoas com quem a Lusa falou comentaram que os três jovens que pagaram passagens às brasileiras estão a ser enganados e manifestaram receio de que a moda pegue, agora que o acesso à Internet é gratuito e toda a gente no Corvo tem computadores. Na passada sexta-feira, o Governo açoriano inaugurou, na mais pequena ilha do arquipélago, o projecto «Corvo Digital», que disponibiliza aos 400 habitantes acesso gratuito à Internet, através do sistema sem fios.
O Padre local, Alexandre Medeiros, demonstrou apreensão quando inquirido pela Lusa sobre este novo tipo de relações na ilha, mas esclareceu que se trata de casamentos cívis e não religiosos. Alexandre Medeiros, que chegou ao Corvo há dois anos, adiantou que, em 2005, celebrou apenas dois casamentos na ilha.
Colocado perante a hipótese de um dia vir a unir um destes casais, diz: «teria de entrevistá-los primeiro para saber quais os sentimentos em causa»”.

in Atlântico Expresso

Sem comentários: