sábado, outubro 21, 2006

As Manifs


Sempre achei uma certa graça às manifestações dos estudantes universitários do ensino público. É vê-los numa preocupação desmedida sobre a carreira académica e sobre o futuro profissional. É vê-los a percorrer as ruas do país em protesto pela situação decadente do ensino em Portugal. É vê-los preocupados com o dinheiro que gastam por ano em propinas. É vê-los preocupados por terem os pais a fazerem constantes sacrifícios para proporcionarem aos filhos um futuro promissor. É vê-los horas e horas a fio agarrados aos livros nas bibliotecas e nos cafés de Portugal. É vê-los, coitadinhos, à espera do autocarro na cidade universitária num tempestuoso dia de inverno. É vê-los... eh lá, espera aí!!! Mas será que estou a escrever sobre estudantes portugueses do ensino público? Acho que me enganei. Devo estar a escrever sobre estudantes dos países nórdicos. Senão veja-se: o estudante do ensino público em Portugal, para começar, e salvo raras excepções, não vai às aulas. Quer dizer, as universidades estão cheias de gente, mas a jogar às cartas no bar da faculdade ou a beber imperiais na tasca em frente. Estão-se nas tintas para a carreira académica e nem fazem a mais pequena ideia de como será a realidade profissional. O estudante português do ensino público realmente percorre as ruas do país, não em protesto mas sim em busca da tasca que venda a imperial mais barata ou o Licor Beirão mais fresquinho. A preocupação que têm com o dinheiro dos pais é saber quando chegará a próxima remessa. Não estudam. É ver a idade dos Dux Veteranum. E quanto aos autocarros, contam-se pelos dedos os que andam de transportes públicos. Aliás, basta olhar para o espaço verde em frente à Reitoria na Cidade Universitária para perceber, pelo parque automóvel, quão dificilmente sobrevive o estudante português do ensino público.
Acho lamentável a maneira como protestam e os argumentos que apresentam. Como falava uma vez com o meu camarada de crónicas, é giro ver as manifestações em Portugal e o "ar sério e de preocupação" com que marcham. É triste que venham queixar-se por ter de pagar cerca de 900 Euros por ano em despesas de educação. Sei que há muita gente que não pode pagar esta quantia, respeito-os e entendo as suas dificuldades, mas também sei que não são estas pessoas que andam em manifestações pela rua, porque os que vão na manif, e isso eu já vi, terminam bêbados e regressam a casa nas suas viaturas. Também já fui estudante e, mais do que ninguém, sei o que é ter que pagar propinas e depender do dinheiro dos pais. Mas não sou hipócrita e a mim não me apanharam nestas tristes figuras. Caros amigos, tenham mais juízo e mais vergonha na cara.

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