segunda-feira, dezembro 18, 2006

Os presentes da pequenada

Agora que se aproxima o Natal, surgem as indecisões do costume no que respeita aos mais jovens. O que oferecer aos putos? Ou melhor, quais os presentes mais adequados? No meu tempo ( e não foi assim há muito) oferecia-se de tudo e mais alguma coisa. Não nas quantidades astronómicas de hoje, claro. Nos dias que correm “despejam-se” ofertas nos putos. Oferece-se de uma forma desmedida e compulsiva. Antes as ofertas vinham de encontro às necessidades de cada um. Bem sei que todas aquelas roupinhas eram uma chatice. Mas que faziam cá um jeito, lá isso faziam. E no meio de tanta roupa lá vinha um ou outro brinquedo, às vezes também ele utilitário e educativo, que fazia as delícias da malta nova. No entanto, não existiam as preocupações que hoje em dia constatamos. A pequenada recebia de tudo, fossem as ofertas convencionais ou não. Ele era pistas de automóveis, puzzles, fisgas, soldadinhos de chumbo, carrinhos, revólveres, metrelhadoras (estes últimos de plástico, claro), enciclopédias, bonecos dos mais variados tipos, bonecas para as meninas, bicicletas, carrinhos a pedais, e por aí fora. Depois apareceram os computadores. Ó, quem não se lembra do fantástico ZX Spectrum e os cinco ansiosos minutos que esperavamos até que a cassete desse a volta e o jogo entrasse? Bons tempos e bons jogos. Recordo com saudade autênticas maravilhas como o Chuckie Egg, o Pac-Man e os Space Invaders. Mais tarde, vieram as consolas de Video-Jogos que obrigaram os nossos pais à compra de outro aparelho de televisão lá para casa senão não viam o Roque Santeiro e o Telejornal. No meio desta salganhada toda de brinquedos, computadores e consolas, ninguém se preocupava com os potenciais perigos que todo este material lúdico poderia exercer nas mentes dos jovens. A violência sempre existiu, é um facto, mas nem por isso deixavamos de brincar aos índios e aos cowbois, não deixavamos de fazer autênticas batalhas campais com as armas que nos eram oferecidas, nem tão pouco nos preocupavamos com as mortes que causavamos nos jogos de video. E porquê? Porque, graças a Deus, sempre soubemos separar a realidade da ficção. E digo graças a Deus porque crescemos a escutar e a aprender valores que hoje tendem a desaparecer. Sabiamos que “matar” um amigo com uma pistola era um acto obsceno e condenável, se praticado num contexto realístico. Mas sabiamos que estavamos a brincar, que era tudo a fingir e, sendo assim, nada mais importava. E, com toda esta violência fingida com que crescemos, não foi por isso que nos tornamos assassinos em série, corpos dirigentes de alguma ditadura militar, nem viajamos para a América do Norte à caça dos terríveis inimigos que eram os índios. Mas hoje está tudo deturpado. Alguns factos que aconteceram neste mundo louco e violento, como é o mundo dos grandes, fizeram com que se olhasse para todos estes brinquedos e brincadeiras com outros olhos. O menino americano roubou o revólver ao pai e matou o seu companheiro de escola. E porquê? Não foi por sempre ter brincado aos índios e aos cowboys. Foi porque o seu pai não teve paciência para explicar à criança que aquela arma não era de brincadeira e que jamais deveria ser sequer tocada pelo rapaz. Nem se deu ao trabalho de a esconder num lugar seguro e apropriado a tal objecto. Outro jovem, um pouco mais velho, e também ele americano, segue todos os paços do famoso jogo GTA e mata uma quantidade enorme de pessoas. O criminoso, apanhado pela autoridade, culpa o jogo pelo seu comportamento. E ficam todos muito chocados com a indústria dos video-jogos. Mas na américa é assim. Critica-se o fabricante do jogo, mas não a poderosa industria de fabricação e comercialização de armas. As armas, por vezes, são de mais fácil acesso aos jovens do que um maço de cigarros. Mas não, a culpa é dos video-jogos. O facto é que a realidade dos nossos dias está distorcida. Se antes faziamos todo o tipo de brincadeiras é porque os nossos pais perderam algum do seu tempo a explicar o que era certo e o que era errado. Eram eles os verdadeiros heróis de todas estas histórias. O cinema fazia-nos crer que os índios eram os maus e os cowboys e os soldados da cavalaria eram os bons. Mentira. Bem pelo contrário. Na vida real os índios é que foram as verdadeiras vítimas, pois, foram devastados pela ganância do homem branco. Mas isso era-nos explicado. E, claro está, existem e sempre existiram jogos violentos. Jogos como o GTA, Carmagedon, o Padrinho e o Medal of Honor. São violentos mas são apenas jogos, nada mais. Penso que não devemos privar os jovens deste tipo de entretenimento. Até porque está provado que os video-jogos, quando utilizados com moderação, desenvolvem as capacidades mentais dos mais pequeninos. Gostaria, isso sim, que os papás dos nossos dias dispensassem algum do seu valioso tempo da vida laboral para explicarem aos filhos o que é certo e o que é errado. Não é só dizer que o brinquedo ou o jogo não são adequados. Há que explicar as suas vantagens e desvantagens e que tudo isto não passa apenas de uma bela brincadeira. E ofereçam lá os jogos de pancadaria que a pequenada gosta.

1 comentário:

Maria Brandão disse...

Xiquinho, colocaste, e bem, o dedo na ferida: o verdadeiro problema não é os brinquedos serem violentos, mas a falta de tempo e paciência dos papás para explicar à pequenada a diferença entre realidade e ficção.